Como diz uma amiga minha,o ser humano é muito mal feito. Quando se apaixona e está feliz, quer que o mundo se dane, inclusive seus amigos da vida inteira; mas, quando está sofrendo e precisando do ombro de alguém com paciência para ouvir toda a ladainha - a mesma de sempre -, telefona imediatamente para eles, e sem a menor cerimônia. O sofrimento aproxima as pessoas. Duas amigas que estão tendo problemas com filhos adolescentes ou foram abandonadas pelos namorados ou estão querendo emagrecer 2 quilos terão assunto 24 horas por dia. Mas, como dificilmente duas boas amigas estão felizes ao mesmo tempo, a que está na pior dificilmente consegue suportar a alegria da outra, enquanto a que está vivendo seus melhores momentos não vai nem querer ouvir falar de problemas, isola. Aquela que está passando por uma fase não exatamente brilhante tem que se conformar em perder a amiga e, um belo dia, ela se surpreende com raiva, desejando que o namoro da amiga vá para o espaço para poder ter de volt a companheira de todas as horas. Acha-se uma peste, claro - como desejar o mal a alguém de quem se gosta tanto? Mas a humanidade é assim - quase toda, pelo menos. Não que ela vá fazer alguma coisa para atrapalhar a vida da amiga, isso nunca; mas, se acontecesse, por obra e graça do Espírito Santo, de o caso acabar, estaria pronta a passar noites em claro enxugando lágrimas e dando conselhos. Pensando bem: é justo perder as pessoas de quem mais se gosta porque elas estão felizes e em outra? Claro que não. E por acaso é justo desejar o mal dos outros? Também não, e o problema é que todos têm razão. É insuportável, para quem está radiante, imaginar que sua grande amiga está em casa sozinha, na pior; é melhor nem pensar, para não estragar a noite. E de não pensar em não pensar vão se espaçando os telefonemas, os encontros, e vai se perdendo a convivência. Aliás, pensando bem, o que determina as amizades? Serão as afinidades, o gostar sem saber por quê, ou as circunstâncias ajudam? Que pergunta! É claro que o sentimento existe, mas as tais das circunstâncias têm uma grande importância. Quem trabalha em moda tem uma turma com os mesmos interesses, mas, se um dia resolver estudar medicina, quando reencontrar os antigos companheiros vai ser tudo ótimo, só que não vai querer nem saber de rendas e babados, e sim de novos e palpitantes assuntos, como fígado e baço. Quando se encontra uma velha amiga que não se vê há muito tempo, existe sempre o risco de ficarem as duas olhando uma para a outra, sem um só assunto a não ser os do passado, o que é quase tão constrangedor quanto encontrar com um antigo amor dentro do elevador, os dois sozinhos, sem nem mesmo o ascensorista para disfarçar o mal-estar. Que amor não é eterno, não é novidade, mas constatar que nem as amizades resistem e que no final acaba sobrando apenas você com você mesma é triste - no mínimo. Convenhamos: a vida não é nada fácil.
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" Eu deveria ter ouvido isso antes, bem antes."
Danusa, com S -Por mim mesma.
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